Zelote

Eu sei que teu espírito é vário
e me previno contra o que tu podes:
tirar o meu peixinho do aquário
e libertá-lo no Rio das Mortes;
livrar o meu cãozinho da coleira
para soltá-lo à Rua da Amargura;
tu vais abrir a porta da cadeia
que é meu coração para dar fuga
a tudo o que eu amo, guardo e cuido;
então é que, movido pelo medo
de te perder, dedico-me ao estudo
de como preservar o meu tesouro:
prender-te na gaiola de um soneto
aferrolhado com chave de ouro.
Afonso Guerra-Baião